quarta-feira, 29 de outubro de 2008

uma coisa diferente

"Filosofar significa pensarmos a nossa vida e vivermos o nosso pensamento.
Entre os dois subsiste, porém, uma defasagem, que nos constitui e nos dilacera.
E a filosofia, em geral, é apenas a negação disso. Para que pensar tanto, se é para viver tão pouco?
A paranóia, diz Freud, é 'um sistema filosófico deformado'; e um sistema filosófico, acrescentaria eu de bom grado, é uma paranóia que obteve êxito.
Gostariamos de tentar aqui uma coisa diferente - uma coisa diferente dessa paranóia dos sistemas, uma coisa diferente também desse êxito: uma filosofia a descoberto, o mais próxima possível da vida real, de seus fracassos, de sua fragilidade, de sua perpétua e fugidia improvisação..."

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

olha lá...

um dia você olha para o lado, e as coisas passam....
um dia você aceita o seu medo, e ele não te paraliza mais...
um dia você perde, e começa a aceitar que isso faz parte da vida...
um dia você aceita que não pode mudar o que sente, e passa a sentir coisas novas...
um dia você desiste de pensar, e passa a viver.

domingo, 31 de agosto de 2008

pessimista, e daí??

Em que nível de intimidade o ser humano é capaz de chegar sem que suas emoções mais primais, de raiva, possessividade, territorialidade e medo, o avassalador e deprimente medo do desconhecido e da solidão, não corroam a essência daquilo tudo que se tentou construir?
Não nos enganemos, todos somos assim, alguns com mais sucesso, outros com menos, alguns ingenuamente, outros cinicamente, mas todos naturalmente destróem suas próprias relações.
E o ciclo continua, uma espiral que não nos permite enxergar nada, a não ser o medo, irracional e febril da besta que muitos julgam adormecida dentro de si, mas que está lá, espreitando todas as ações que tomamos e acrescentando pitadas de loucura que não sabemos de onde vem, mas que corroem aos poucos, na medida de nossa alienação.
Será que vivermos em sociedade não foi apenas uma piada cruel de um deus infeliz?

sábado, 12 de julho de 2008

Desilusões

Você passa muito tempo acreditando que seus pais entendem tudo, sabem tudo, inclusive o que é melhor para você.
Até descobrir que eles são mortais, não te entendem, erram, tentam controlar, igualzinho a você.
Você passa muito tempo achando que em algum momento será feliz, mas que para isso precisa encontrar o amor da sua vida, ter sucesso, amigos, dinheiro e saúde.
Até descobrir que felicidade é uma constante negociação consigo mesma, e que só com isso você desfrutará verdadeiramente de seus amigos, sucesso, saúde, dinheiro e terá condições de viver um amor.
Você passa muito tempo acreditando em seus defeitos, qualidades, vícios e capacidades.
Até perceber que você mesma define suas características, mas suas características não são quem você é.
Você passa muito tempo acreditando na magia de Vovó Mafalda...
Até descobrir que ela morreu! E que era um homem!!!

domingo, 4 de maio de 2008

Já vou mãe!

Tenho 23 anos, idade que parece demais às vezes, e às vezes muito pouco.
É cada vez mais difícil admitir que ainda sou nova, pois parece que de repente me verei com 20 anos a mais, ainda tentando entender a vida...
Mas é difícil enxergar também que essa "velhice" tem muito da nossa idéia de que somos espertos, vividos e adultos, idéia difícil de relativizar, só temos nosso passado pra comparar...
A cidade acaba se tornando nossa casa, nosso referencial se perde e sobreviver é a prioridade, pois ninguém fará nosso papel por nós...
Já passei por essas coisas, provavelmente passarei de novo.
Mas dessa vez saí disso, sei lá porque, mais conciliada e tranquila com todos os papéis que assumimos na vida, estudante, trabalhadora, amiga, irmã, neta, mulher, filha...
E quem sabe meus próximos papéis acabem me completando e construindo, mas desta vez sem pressa, apenas curiosa por tudo aquilo que está por vir.

sábado, 26 de abril de 2008

eu choro, mas não há desespero, apenas tristeza.
eu sorrio, mas não há fingimento, apenas sinceridade.
eu trabalho, mas não há obrigação, apenas concentração.
eu sinto dor, mas não há medo, apenas pressão.
eu durmo, mas não há preguiça, apenas cansaço.
eu como, mas não há prazer, apenas fome.
eu vivo, mas não pela metade, eu finalmente vivo comigo.

terça-feira, 18 de março de 2008

Dúvida

Como não acreditar na bondade humana quando ela vem de graça, sorrateira e pedindo desculpas por existir?
O que estraga, na maioria das vezes, não é o fornecedor e sim o receptor.
Como aceitar a bondade simplesmente quando é muito mais fácil, depois de tantas feridas por má-interpretação, esperar sempre o pior?
Daí o medo, de novo, vem nos toldar, sussurar no ouvido o quão inocente somos por ousar pensar na possibilidade de um ato abnegado vindo de alguém.
E nos pegamos concordando. Endurecendo e restringindo a mente, enxergando nossa visão deturpada (como qualquer visão) da realidade, como verdade absoluta.
Bom, eu me presenteei pelo menos com o benefício da dúvida. Já é alguma coisa.

Música

Não é cansaço, mesmo tendo dormido às duas e acordado às seis.
Não é tristeza, mesmo tendo assistido às várias e sempre surpreendentes formas da miséria humana todos os dias.
Não é raiva, mesmo percebendo que o mundo chafurda cada vez mais em sua própria arrogância e esquizofrenia.
É exatamente este o problema. Não é nada disso que sinto.
É um suspiro permanente que me arrepia a espinha, que me faz vislumbrar a face do conformismo e me larga consternada.
Mas então eu escuto Cássia. Felizmente o homem apostou na música como um meio de disseminação cultural, senão agora eu estaria encrencada.

Medo

Não é verdade que as pessoas mais felizes são aquelas que nada temem, estas simplesmente possuem uma forma muito diferente de vida e felicidade.
Mas para aqueles que compartilham deste aspecto quase unânime na sociedade humana, as pessoas mais felizes provavelmente serão aquelas que reconhecem, vivenciam e verdadeiramente se apropriam de seus medos.

quarta-feira, 12 de março de 2008

pra pensar, não pra concordar

O ser humano é racista.
A identificação e definição das diferenças entre o eu e o outro é o mecanismo que faz com que reconheçamos o mundo, nossa realidade e nós mesmos como coisas separadas.
Eu não sou como essa cadeira, logo essa cadeira é diferente de mim e portanto eu não sou uma cadeira.
Esse raciocínio básico de separação entre o indivíduo e seu meio exterior, através das diferenças entre ele e o meio, assim como qualquer percepção, pode ser exaltado ou desencorajado, mas está aí, presente em qualquer pessoa.
Somos diferentes. Durante séculos de convívio social produzimos e reproduzimos complexas redes de interações que nos induzem, desde o nascimento, ao comportamento majoritário em nosso grupo que, no fim, forma nossa identidade.
Dois aspectos conflitantes. Ao mesmo tempo que comparamos e identificamos contínuamente o diferente, não medimos esforços para nos igualarmos em nosso próprio grupo.
Some a isso o arcabouço cultural predominante, glorificação e exaltação da etnia branca em detrimento e contraposição direta às outras etnias.
As alterações desta realidade que nos é dada só dependem de nós mesmos. Quem mantém ou altera qualquer aspecto cultural de um povo é este mesmo povo.
Aceitar nossas limitações como ser humano e reconhecer nossos comportamentos sociais não significa compactuar com eles. Admitir que eles existem é o primeiro passo honesto em busca de alguma modificação real.
O que mais me entristece é a negação da realidade. A falta de disposição para lidar com problemas que nos exigem uma solução, chegando ao ponto de negá-los só me remete a duas explicações, fraqueza de caráter ou má-fé mesmo.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

folha ao vento

Você acha que está pronto para tudo? Pensa que a vida é de algum modo restrita à gama de possibilidades que sua imaginação pode alcançar? Conselho de amiga: pense de novo.
Quem sempre teve clareza de seus próprios sentimentos ou pelo menos possui pouca presença de espírito para questioná-los, até poderia manter um norte nas eventuais tempestades que todos passamos na vida, mas agora não é mais este o caso. A folha perdida em um vento brincalhão e cruel talvez seja a melhor alegoria para esses momentos.
Tudo parece refletir no interior, modificar de alguma forma aquilo que com muito esforço se tenta construir, ou melhor, reconstruir.
O cheiro que de surpresa aparece numa camisa, um livro deixado para trás, uma música, algo dito por alguém, a maneira como o silêncio ecoa no vento passando pela sala.
Meu corpo parece responder sozinho a estímulos que mal percebo. Cada movimento mais contraditório que o anterior.
Enfim, situações novas levam ao crescimento pessoal e auto-conhecimento, blá, blá, blá...
Neste momento, tudo que eu quero é algo mais forte do que minha própria racionalidade, mas pelo jeito isso, infelizmente, está escasso no mercado.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

uma sexta-feira chuvosa. esse é o início da concretização de algo que espero e planejo a muito tempo.
o trabalho passou batido, a chuva continua, mas sem deixar vestígios em mim, o dia se torna noite e eu mal percebo a mudança de tonalidade do céu.
sinto a realidade desse momento de forma irreal, mágica, onde parece que nada pode abalar a vibração que aumenta cada vez mais dentro de mim.
falei várias vezes isso durante o dia, e cada vez mais percebo, esse sentimento é a paixão!
estou apaixonada! fazia tempo que não me sentia assim!

domingo, 6 de janeiro de 2008

prefiro a realidade

"E o sucesso é amargo quase tanto quanto a derrota. Vaidade de tudo: verdade de tudo. Como não se ficaria decepcionado, pois que se desejava sem conhecer, pois que se tomava o desejo pessoal por um conhecimento? Decepção: desilusão. É a mesma coisa, e o gosto mesmo da verdade. O amor decepciona. O trabalho decepciona. A política decepciona. A arte decepciona. A filosofia decepciona. Pelo menos decepcionam primeiro e por muito tempo - até o dia em que os amamos pelo que são, pelo que são realmente, pelo que são apesar de tudo, e já não pelo que se tinha sonhado ou esperado deles. Trabalho do luto: trabalho da desilusão. Não se trata de acreditar; trata-se de conhecer e de amar. Um escritor que ainda acredita na literatura, que poderá ele ensinar-nos de importante sobre ela ou sobre a vida? E um filósofo, se acredita na filosofia? E como amar verdadeiramente, enquanto se acredita no amor, enquanto se faz dele uma religião, um absoluto, um sonho? Toda esperança é decepcionada sempre, mesmo quando é satisfeita; é no que a satisfação tantas vezes é melosa, como um desejo insosso assim que é saciado... Muitos, constatando que a vida não corresponde às suas esperanças, vão então acusar a vida, censurá-la absurdamente por ser o que ela é (como ela seria outra coisa?), enfim enterrar-se vivos no rancor ou no ressentimento... Prefiro o alegre amargor do amor, do sofrimento, da desilusão, do combate, vitórias e derrotas, da resistência, da lucidez, da vida em ato e em verdade. Prefiro a realidade, e a dureza da realidade."